Indy Vandark

sábado, 19 de janeiro de 2013

O jovem, Einstein.



Professor: Hoje, eu vou provar pra vocês que se Deus existe, ele é mal. Deus criou tudo que existe? (pausa)
Professor: Se Deus criou tudo... então ele criou o mal. O que significa que Deus é mal.
-um garotinho lá atrás levanta a mão-
Garoto: Com lincença, Professor... o frio existe?
Professor: Que tipo de pergunta é essa? Claro que ele existe. Você nunca teve frio?
Garoto: Na verdade senhor, o frio não existe. De acordo com as leis da física, o que nós consideramos frio é, na realidade, ausência de calor. - o garoto continua - Professor, a escuridão existe?
Professor: Claro que existe.
Garoto: Você está errado senhor. A escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é a ausência de luz. A luz, nós podemos estudar mas não a escuridão. O mal não existe, é a mesma coisa da escuridão e do frio. Deus não criou o mal. O mal é resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus presente em seu coração.
-O garoto se senta-
Professor: Como é seu nome garoto?
Garoto: Albert Einstein, senhor.

Os Anjos Invadiram o Inferno


Queria sentir o vento me tocar nas alturas do céu. Isto está na eminência de querer e não de poder. Á vista disso, talvez, não é bem isso que quero dizer.
Queria ter asas, para poder ser um anjo, cujo anjo liberto, voar livremente. Compreende?
Mas sou apenas mais um, porém, um único.
Vivo intensamente, sem medo de errar, faço o que desejo, isso gera os meus defeitos, Portanto, talvez, sejam esses desejos que a me tornam má.
Mandaram-me escolher um caminho e prometeram-me a liberdade, mas na vida que vivo, promessa é falsidade.
Deram-me um bombom da liberdade, me prometeram asas, e nesse caminho segui completamente entregue, como se eu estivesse de olhos vendados, caminhando a caminho de um presente prometido.
Mas era o caminho errado, disseram-me que era o paraíso certo, mas os homens disfarçados me abriram a porta do inferno.
Foi aí que aprendi, dei conta que existem pessoas falsas que tem o poder de fazer qualquer um otário acreditarem, apenas com simples palavras de promessa. Oh maldita hipocrisia. Vi-me em uma cena igual a da Branca de Neve enganada pela aquela maldita velhinha, ou o da Chapeuzinho Vermelho enganada pelo fedido Lobo Mal. Comparando os três, talvez, o meu caso é pior. Avassaladoramente fui enganada, dentro daquele bombom tivera uma granada.
Malignidade. Talvez um dia eu aprenda.
O que fizeram de mim? Esse lugar define um suplício tormento infligido a alguém.
Aqui não existe dia. Apenas longas noites escuras e tonantes. Talvez eu até gosto disso, mas nem tanto. Eu tenho uma forte atração pela obscuridade e o ocultismo. Mas nada sério, como quando julgaram uma pobre garota de ser doentia, por apenas admirar o inferno e os males que existem no mundo obscuro.
Mas eu estava cercada por farsistas, pessoas que queriam meu mal, eu tive a certeza de que me trouxeram para o inferno, quando aquela espécie desumana me atirou fogo abaixo, querendo queimar toda a digna paz que existia sobre mim. Eram eles, os filhos do satanás, eram todos diabólicos. E não os julgo de pessoas, e sim, de espécie, espécie do mal.
Meus anjos me viram chorar, e lá eles foram tentar me salvar. (Talvez essa parte dos anjos seja entendida como um simples conto estúpido, mas são esses anjos que vão dar o significado a entender da história).
A batalha começou. Anjos e demônios, em plena virtude de vencer uma imensa batalha. Senti o tremor. Capaz de abalar as estruturas daquele lugar infernal.
Mas a força do mal, naquele caso era maior, e aquelas imundas espécies, prenderam meus anjos sem dó.
Para mim foi o fim da estrada. As asas dos anjos foram cortadas. Eles não poderão voar de volta para o céu. E nesse momento, estava eu, a observar um misterioso enigma, pois, as tais espécies me ofereceram as asas para eu poder voar no escuro céu. Como prometido. Tudo o que eu queria era voar. Mas se eu escolhesse as asas, meus anjos iriam ser queimados.
Já estava tudo perdido, e naquela situação eu pensei como o nerd emo Light Yagami nas suas decisões, do Anime Death Note. Pensei negativamente: “Se eu não escolher as asas, não vou poder realizar meus desejos, e assim continuarei aqui, neste sombrio lugar, com meus anjos derrotados pelos demônios, sem poder me salvar.” Continuei a pensar desta vez positivamente: “Se eu escolher as asas irei poder voar , não só poder realizar o meu desejo, como também poder me livrar deste lugar, pois voando, do inferno poderei sair. E enquanto aos meus anjos, a missão deles é me salvar, ou seja, eu escolhendo as asas para poder me livrar, meus anjos estarão automaticamente me salvando.” Tiro a conclusão que o segundo pensamento será o melhor para mim.
Escolhi as asas, e em minha frente os meus anjos, no qual posso julgar guardiões, vi todos sendo queimados pelo fogo do inferno. Aquela imagem pairou em minha mente. E se eu fiz a escolha errada? Meus anjos se arriscaram por mim, e o que eu fiz por eles? Nada. Apenas nada. Pensei apenas em mim.
Realizei o meu desejo, como prometeram aqueles homens desconhecidos. Lentamente asas mutavearam em mim. Senti meu corpo se transformando, e fui me distorcendo sem dor, senti aquelas asas crescerem lentamente sobre as minhas costas.
- Tornei-me um anjo? É isso?
Perguntei aquela espécie desumana que me observava a cada movimento.
E com uma voz rouca ele disse lentamente
- Sim, porém, talvez não.
Por mais que eu tentasse, não iria saber o que aquela frase significava. Era algo sem sentido.
Tudo o que eu queria era voar livre, e já que eu tinha as asas pensei em fugir dali. Rapidamente abri as asas, peguei impulso, mas não consegui desta vez. Precisava levar um bom tempo para se conseguir, e finalmente se acostumar.
Finalmente estava eu voando, livre como um pássaro no céu. Mas haveria de ter algo errado. Como eu iria sair daquele lugar?
Por mais que eu continuasse voando, por mais longe que eu chegasse eu continuaria exatamente no mesmo lugar. No inferno.
Foi aí que aquela horrível espécie desumana me falou:
- O que você está tentando fazer demônio de asas? Você não pode fugir daqui, pois no inferno também existe céu.
Aquelas palavras me fizeram tomar um grande choque, e despenquei do alto.
- Como assim? Eu, demônio? Irei viver aqui para sempre?
Perguntei apavoradamente.
- Sim, pois, os únicos que poderiam lhe salvar, eram os seus anjos. Mas como você escolheu a morte deles, por culpa dos desejos, não há salvação. E isso fez com que você se tornasse um demônio. Você é um de nós, aqui é o seu lugar.
O enigma era esse. Hoje vivo eternamente presa sob o céu do inferno. Eternidade é pouco para dizer o quão tempo irei de passar lá.
E só assim aprendi que asas não significam liberdade.

O Poder da Fumaça do Café


   

        Quarta passada, sete horas da manhã. Acordo com o tic-tac do relógio antigo que fica entre os dois criados-mudos do tempo de antes da primeira guerra mundial, no quarto da minha avó – a que cheira tabaco escondida – e o barulho de gotas pingando da pia velha do banheiro sujo do lado do quarto.
Eu gosto disso, pois assim tenho a certeza de que o silêncio não está presente, pois, é ele que me faz pensar. E ao pensar sempre enxergo o lado ruim da vida.
        Acordei sentindo convictamente de que estive muito doente, e despertei de uma grande enfermidade, parecia que eu estive em um coma profundo. Sentia meu corpo pesado, como se eu estivesse carregando um peso de mil toneladas estagnadas dentro da minha alma.
        Ouço de longe um clangor vindo junto com o vento, pela janela que sozinha abre despertando um clarão, que fez arder meus olhos, me acordar de vez e revelar para mim que estou no mundo.
        O cheiro forte da fumaça do café que minha mãe preparava, me trouxeram nostalgia do dia anterior, eu tentava lembrar de algo, mas a memória falhava, eu tentava, mas não conseguia. Era como se alguém tivesse apagado minha memória por completo. Nostalgizei também – principalmente - do tempo em que eu era inocente, onde eu assistia Bob Esponja sem enxergar que ele é gay, cantava a música de sabão crá-crá sem entender e cu era apenas o símbolo do cobre.
Mas de volta a realidade, bate na porta um velhote vendendo livrinhos infantis. Ele tinha uma tatuagem rangífer de um antigo instrumento de suplício (dois madeiros, um atravessado no outro) em que se amarravam condenados à morte, e segunda a religião é a cruz em que foi pregado Cristo, ou na representação dela, um símbolo da redenção de Cristo e do Cristianismo.
Achei estranho um velho tatuado trabalhar pela manhã vendendo livros infantis, e alegava que estava precisando muito de uma ajuda, para comprar o almoço de mais tarde. Ruim é olhar para esse pobre velho e saber que um político corrupto está boiando em dinheiro e é obeso. Como já dizia o Cazuza: “Vamos pedir piedade... (8)” Pois é, mas o senhor piedade está no céu. Você sabe muito bem que somos sobreviventes de um desastre mental. E aqui é o mundo doente onde vivemos, o qual eu julgo de verdadeiro inferno. Bandidos matam policiais, policiais viram bandidos e a sociedade lá sofrendo por falta de segurança. E o melhor a fazer é sentir o cheiro da fumaça do café e lembrar de quando eu não sabia de tudo isso. Por falar nisso, eu preferia ficar sem saber do segredo dos The Rolling Stones - Sempre tenho que mencionar um terceiro caso relacionado a alguma banda – é quase que obrigação.
        Você não sabe o que é desafiar a igreja lendo um código no índex de cabeça para baixo e afirmar que é devoto de grandes filósofos ateus, mas você não é ateu - muito menos religioso – Você não sabe o que é acreditar na teoria que alegam que o glorioso William Shakespeare se casou com oito anos de idade com uma mulher mais velha, por causa dos costumes do seu país natal, e depois disseram que ele era ela. Sim, naquele tempo as mulheres não eram bem recebidas, nem recebidas no mundo da teoria e do pensamento. E a conclusão sobre o grande foi dada. Entre vários e outros historiadores e pesquisadores que desafiam e desconfiam das palavras do mestre. William Shakespeare, nada mais nada menos, simplesmente nunca existiu. Essa foi uma das coisas mais bizarras que alguém pode ter inventado – O personagem Shakespeare, ou um mito sobre a verdade de Shakespeare – Então me diga referentes, quem iria criar um personagem para esconder sua sabedoria? Alguém jamais. Ah, esse mito deve ter surgido depois desses referentes terem cheirado muito, mas muito a fumaça do café. Esse é o mundo bizarro.
        Lembrei do caso da mãe prostituta que colocava vodka no leite do bebê. O jovem punk anarquista que odiava a todo tipo de lei, quebrava as regras e quando cresceu estudou para ser advogado. Mas que droga é essa? Alguém começa a pensar no lado irônico da vida depois que cheira a fumaça do café? Você já ouviu maldita? Sei que não. Sinto esse mesmo sintoma quando os ouço. Erich canta: “(...) homens e mulheres constroem suas vidas, eles se entorpecem de sexo, bebidas e anfetaminas. E não deixam um lugar para um humilde pastor, que quer abrir as portas da casa da sua dor. Então vem o pastor e invade a tua casa, espanta teus amigos e quer comer tua namorada, e então você ateu se fudeu, e foi confirmar na merda que não existe um Deus...” Também concordo com ele quando ele critica o Brasil de bastardos da América. “(...) Nossa alma não mais será odiada pelo vaticano, nós somos sul-americanos vizinhos desses filhos da puta que fabricam mentira e nós como o resto do mundo, simplesmente pagamos por ela.” A verdade é que Erich só escreve quando também, sente o cheiro da fumaça do café. Isso realmente é algo frustrante.


sábado, 12 de janeiro de 2013

Epítome de Estilhaça-me.


                 Epítome
                                   


Estou aprisionada há 264 dias.
Não tenho nada senão um caderno e uma caneta quebrada e os números na cabeça para me fazer companhia. Uma janela. Quatro paredes. Espaço de 1,48 m². Vinte e seis letras de um alfabeto, do qual não fiz uso em 264 dias de isolamento.
Seis mil trezentas e trinta e seis horas desde que toquei outro ser humano.
– Você vai ganhar um companheiro de cela – disseram para mim.
– Agente espera que você apodreça neste lugar. Por bom comportamento
– disseram para mim.
– Outro psicótico igual a você. Acabou o isolamento – disseram para mim.
Eles são os asseclas do Restabelecimento. A iniciativa que supostamente deveria ajudar nossa sociedade agonizante. As mesmas pessoas que me arrancaram da casa de meus pais e me trancafiaram em um porão por causa de algo que me fugia ao controle. Ninguém se importa com o fato de que eu não sabia do que era capaz. De que eu não sabia o que estava fazendo.
Não faço ideia de onde estou.
Só sei que fui transportada por alguém dentro de um furgão branco que levou 6h37min para me trazer até aqui. Sei que fui algemada em meu assento. Sei que fui amarrada em minha cadeira. Sei que meus pais jamais se preocuparam em se despedir.
Sei que não chorei enquanto era levada.
O sol cai dentro do oceano e respinga marrons e vermelhos e amarelos e laranja no mundo exterior a minha janela. Um milhão de folhas de uma centena de diferentes ramos mergulham no vento, flutuando com a falsa promessa de vôo. A rajada de vento atinge suas asas secas apenas para forçá-las para baixo, esquecidas, deixadas ao pisoteio dos soldados ao chão.
Não há tantas árvores como antes, é o que dizem os cientistas. Eles dizem que nosso mundo costumava ser verde. Nossas nuvens costumavam ser brancas. Nosso Sol era sempre o tipo certo de luz. Mas tenho frágeis memórias desse mundo. Não me lembro muito de como era antes. A única existência que conheço agora é a que me foi dada. Um eco do que costumava ser.
Pressiono a palma da mão contra a pequena vidraça e sinto o frio cingi lá em um abraço familiar. Estamos ambas sozinhas, ambas existindo como a ausência de qualquer outra coisa.
Apanho minha caneta quase inútil e de pouquíssima tinta, e cujo uso aprendi a racionar um dia após o outro, e olho fixamente para ela. Mudo de ideia. Abandono o esforço necessário para escrever. Ter um companheiro de cela poderia ser bom. Conversar com um ser humano de verdade poderia facilitar as coisas. Pratico usando a voz, moldando os lábios à forma das palavras familiares que me são estranhas à boca. Pratico todos os dias.
Fico surpresa por lembrar como se fala.
Enrolo meu caderninho e o enfio na parede. Sento-me nas molas cobertas de pano sobre as quais sou forçada a dormir. Espero. Balanço-me de um lado para o outro e espero.
Espero muito tempo e caio no sono.

Meus olhos se abrem a dois lábios duas orelhas duas sobrancelhas.
Contenho meu grito na urgência de dominar o horror paralisante que e toma os membros.
– Você é um ga-ga-garoto...
– E você é uma garota. – Ele ergue uma sobrancelha. Ele se inclina, desviando-se de meu rosto. Ele força um riso, mas ele não está sorrindo. E eu quero chorar, meus olhos se desesperam, aterrados, lançando-se em direção à porta que perdi as contas de tantas vezes que tentei abrir. Eles me trancaram com um garoto. Um garoto.
Deus!
Eles estão tentando me matar.
Eles fizeram isso de propósito.
Para me torturar, para me atormentar, para eu nunca mais dormir durante a noite. Seus braços são tatuados até os cotovelos. Na sobrancelha falta-lhe uma argola, que eles devem ter confiscado. Olhos azul-escuros, cabelos castanho-escuros, linha da mandíbula definida, físico forte e magro. Deslumbrante. Perigoso. Aterrorizante. Horrível.
Ele ri e eu caio da cama e corro para o canto.
Ele avalia o pequeno travesseiro sobre a cama vaga que eles empurram para o espaço vazio esta manhã, o reduzido colchão e o cobertor surrado nem mesmo grandes o bastante para dar conta da metade superior de seu corpo. Ele olha para minha cama. Olha para sua cama.
Junta as duas com uma mão. Usa o pé para empurrar as duas armações de metal para o seu lado do quarto. Estende-se sobre os dois colchões, tomando meu travesseiro para amortecer se pescoço. Comecei a tremer.
Mordo o lábio e tento ocultar-me no canto escuro.
Ele roubou minha cama, meu cobertor, meu travesseiro.
Não tenho nada senão o chão.
Não terei nada senão o chão.
Jamais irei me opor porque estou petrificada demais paralisada demais paranóica demais.
– Então você é... o quê? Louca? É por isso que está aqui?
Não sou louca.
Ele se apóia novamente para ver um rosto. Ele ri novamente.
– Não vou machucá-la.
Quero acreditar nele. Não quero acreditar nele.


Segunda-feira, 10 de dezembro de 2012. 11h53:58
Lauren Kate.


sábado, 22 de dezembro de 2012

Síntese do ego.

Não. Não há ninguém que possa entendê-la. Nem ela mesma. E ela sabia que para ser feliz nesse mundo, precisava arriscar-se na vida. É como se jogar num abismo, pensando convictamente de que lá embaixo encontraria outro mundo. O mundo que a pertence. O seu eu. E que a dor da queda, não seria tão pior quanto a dor de viver infeliz.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Garota da Montanha (A Visão de Antes da Morte)


Garota da Montanha



     Apenas no crepúsculo acordo da enfermidade. O clarão das lâmpadas elétricas da rua deitava-me pálida aqui acolá. Ainda pensando na morte de Gregor Samsa e Georg Bendemann, que pensaram com amor na família antes de sucumbir, e também se autossacrificar no final d’A Metamorfose seguido de O Veredicto. Pensava e tentava entender por qual motivo Kafka eis de matar todos os seus personagens. E porque acordei pensando nisso.
     O dia chegou, senti o cheiro da terra e ouvi o piar do vento. Vozes de pessoas fluíam ecoando por debaixo da porta do quarto. A ranjada de vento dominou o local abriu a janela ferozmente e me fez avistar uma garota no alto da montanha. Consegui enxergar embaçadamente um véu caído em seu ombro, pés descalços, suor e muito cansaço. De longe ela parecia me observar. Aquela cena me fez acordar à vida. E percebi que aquele lugar eu nunca estivera antes. Levantei-me da cama com muito esforço, olhei para minhas mãos, que estavam pálidas e muito diferentes. Olhei para cima da porta, lá havia um relógio antigo com números em romano. Estranho mas, mesmo sabendo decifrar números romanos, naquele momento eu não conseguia decifrá-los.
     Olhei novamente para a janela, a garota permanecia lá, imóvel, com os olhos voltados para minha direção. Senti um súbito arrepio fluir em meus braços, a chuva parara e o sol já se manifestava. Olhei meramente para aquela paisagem. Embaixo da montanha havia um lago, no qual sua água estava suja, tão preta e podre que era notável a presença de plantas mortas em sua beira. Só havia montanhas e mais montanhas naquele lugar.
     Por um momento senti falta das coisas familiares e quando pensei em sair do quarto, surgiu um homem por detrás da garota, chegando cada vez mais perto dela. Carregava consigo um marchado. Ele era magro, estava de calça preta, camisa xadrez, chapéu chinês e tinha bigode italiano. De repente ouço choros, seqüência de gritos, vindo por debaixo da porta. Assustada olho para a montanha novamente, e em fração de segundos o homem empurra a garota montanha abaixo. – “Jesus!” Gritei. Fixei meu olhar na garota se caindo nas rochas até chegar ao lago abaixo. Desesperada, corri para abrir a porta, em seguida me deparo com muitas pessoas chorando baixinho, soluçando, padre rezando... Ninguém me ver. Ninguém me ouvia gritar! E em meio a todos ouço um homem dizer. – “Minha filha não!... Ela estava brincando nas perigosas montanhas, e acidentalmente caiu.” – “... Ou suicidou-se!” diz o padre. Mas eu sabia, eu sabia. O homem inconformado é o pai da garota, ele tinha bigode italiano e estava de xadrez. Eu o reconheci. Senti uma forte dor no coração. Desesperada, corri para o quarto. Na janela havia um clarão atraente e muito forte, tentei enxergar o lago, mas não achava. Então ouvi uma voz feminina dizer: – “Queridos pais, mas eu sempre amei vocês!”. O clarão foi vagarosamente transformando-se em uma breve escuridão sem fim. Total silêncio.
     Acordei. Desta vez em meu quarto, em minha cama e minha casa. E até agora não consigo explicar para ninguém que a menina do lago não era eu. E que isso não foi um sonho, e sim, a visão de antes da morte.

     Hoje entendo porque os personagens de Kafka sempre se “autossacrificam”. Mas a felicidade é amarga e o sol ilusório. Ninguém pode deixar de ver que há – como no velho Marchado de Assis – uma gota da baba de Caim em toda essa felicidade presente.

Sábado, 24 de novembro de 2012 13h36min29

sábado, 17 de novembro de 2012

Ascenção




Para mim não tem nada haver com revolta, tem haver com marcar posição. Eu amo meus pais, sinto-me à vontade no meu mundo confortável com cortinas, heavy-metal, e xícaras de chá. Eles nunca me impediram que eu fizesse o que queria até então, e dão o quarto do meu irmão para eu tocar quase todos os dias, quando Júlia, Nayana e Gabi aparece e nós tocamos juntas. Minha mãe fecha a porta e diz: “Toquem música, por favor!”. Meu pai nunca se importara com a barulheira, ele tem um ótimo senso de humor. E na maioria das vezes ele nunca está em casa mesmo. Incrível sua vontade de trabalhar.
            Hoje é um mundo diferente daquele em que eu cresci, eles não pareciam se importar, desde que fosse feliz, e eu era. Eu ouvia as histórias dele. Como durante a juventude do meu pai – Lucca – que era vendedor de picolé na praia, depois consertador de objetos pilháveis, e hoje empresário de bancos. Minha mãe – Inig J – era uma boa moça que teve seu primeiro emprego vendendo salgados, sempre sorrindo e dizendo coisas positivas para todos. Eles estavam casados há pouco tempo quando descobriram que eu ia nascer. Mas já tinham um filho. Isso foi quando eles viviam na velha casa de Jardim Paulista, era um casebre perto do Recife. Eu era um bebê da meia noite, eles disseram: nascera em 30 de março de 1996, na maternidade Paulista, um bairro ao lado de Hellcife. Eles não me batizaram, apesar de que isso era o que todos faziam, mas eles preferiram assim, e nunca me obrigaram a ir à igreja. Eles acreditam em Deus – não pra valer –, nem eu. Eu só digo o nome dele quando alguma coisa dá errado: Ai, meu Deus! Por Cristo! Ah, vá pro inferno!
            A música pra mim não era importante. De vez em quando ouvia minha mãe ouvindo no rádio um velho MPB, como: Jorge Vercilo, Caetano Veloso, Roberto Carlos... Realmente eu não curtia muito a música, até ouvir as músicas que meu pai ouvia: Legião Urbana, Titãs, Guns N Roses... E eu sempre soube que foi apartir desse momento que eu soube o que era música. Meu pai “era” um roqueiro embutido, ele curtia aquele rock clássico, era fã de Guns N’ Roses e razoavelmente ouvia Scorpions. Eu nunca soube o que era metal de verdade até ficar mais velha. Por sorte, meu irmão mais velho também gosta de rock, assim como depois, minha irmã casula também veio para gostar. Eu gosto da companhia dos meus irmãos, mas prefiro ler, desenhar e colecionar CDS só para mim. Eu sou a filha do meio, a que sofre com aquela história: “Só ele que vai porque é mais velho. Só ela vai ganhar porque é mais nova” Mais que Cacilda! Odeio isso. E para meus pais eu sou muito madura mentalmente para a minha idade. “Você era divertida”, dizia minha mãe, olhando para alguns anos atrás. “Mas uma divertida tranqüila, você não era do tipo de menina que gritava.” E hoje sou mais fechada, isolada. Uma solitária por vontade própria.  Muitas pessoas não conseguem ficar sozinhas. Ficam assustadas. O isolamento não me incomoda de maneira alguma; ele me dá uma sensação de segurança.
            Depois que meus pais se mudaram de Jardim Paulista (PE) para Jardim Planalto (PB) em 2002, as coisas começaram a melhorar, não para a minha mãe, que tinha a sensação de que se mudou para uma casa amaldiçoada, porque vivia vendo e ouvindo coisas esquisitas, dizia que via espíritos. Até se mudarem para outra casa nos funcionários em 2004 a qual foi pior ainda para ela. Já em 2008 se mudaram para uma casa nova, em outro bairro, a casa que vivemos até hoje, e ela nunca tivera problemas como os quais ela tinha antes. A casa é legal, agradável. As cortinas de renda, vizinhos curiosos e fugir para a mata da esquina. Ainda não perdi o sotaque da cidade natal. Drogachi! Depoichi! CuichiCuichi! Arroichi! Ridículo.
As férias do começo do ano é a melhor coisa. Na maioria das vezes volto para Pernambuco visitar meus familiares ou vou para alhandra, caaporã ver outros familiares que nem sabia que existia. Vou até a fazenda da minha tia-avó uns 40 km de João Pessoa, foi lá à primeira vez que pesquei. E podia matar o tempo com animais. Fazer medo a os pirralhos sobre as histórias de romãzinho e Maria florzinha, essa era a melhor parte, saiam todos correndo para casa e deixava a mesinha de totó em paz para eu brincar com minha prima Tainá, a que não é uma índia.
Em relação ao colégio eu era uma ótima aluna até os 14 anos, até descobrir o violão. Depois descobri a guitarra, virei metaleira. Mas ainda posso contar por ai que sou uma boa aluna, pois eu realmente tive uma boa educação dos 7 aos 14 anos, aprendendo a ser uma rebelde e todos os macetes dos jogos. Mais isso era apenas para contar vantagem. Eu gostava de me exibir. No início, eu pegava o violão sabendo que os professores iriam tirá-lo e não devolveriam até à hora de ir para casa. É um violão daquele tipo pra iniciante, preto e com cordas de nylon horríveis, mas, quando eu aparecia com ele depois da aula e começava a tocar, mesmo sem ter o jeito ainda e, tocando as notas mais simples e o ritmo mais fácil, os amigos se juntavam ao redor, arrancando os cabelos, surpreso por ver um instrumento raro para crianças – as crianças nunca gostaram de violão – e olhando para mim como se estivessem me vendo pela primeira vez. Eu sabia tocar, até Mateus mostrar como era. Depois consegui aquele livro Play in a Day, de Bert Weedon, mas por curiosidade, depois perdi ele na mudança. Logo esqueci tudo. Depois minha mãe comprou outro livro de cifras Canções de Roberto Carlos. Eu vendi. Em relação a tocar violão, eu prefiro tocar MPB, me faz bem. Meu antigo colégio o João Paulo II – onde conheci Lucas, meu futuro marido – ofereceu algumas aulas, mas isso também não ajudou muito. Eu sempre fui muito impaciente. Eu tinha aquilo que o professor do JPII me pediu para praticar e o que eu ouvia quando colocava alguns CDS. A primeira música que aprendi foi Pra não dizer que não falei das flores, são apenas duas notas, mas, até hoje me perco no ritmo. Eu queria era tocar Legião Urbana, Pais e Filhos, Hoje à noite não tem luar, Que país é este e Faroeste Cabloco. Eram as músicas que eu escutava naquele tempo. Também queria aprender Cássia Eller e Cazuza. Nunca consegui tirar uma completa. Mas felizmente hoje consigo mais ou menos. Pelo menos disfarço. Minha música favorita era Don’t cry de Guns N’ Roses, puta som! Pegava de um jeito que você não conseguia mais tirar da cabeça! Nada de bateria pesada, apenas dedilhado de guitarra e mais guitarra. Aquele refrão estagnava na minha mente “Don’t youuu cryyyy that night” Mas eu choro ouvindo ela à noite; pura emoção, eu querendo fazer parte. Então eu aprendi um pouco de guitarra, comecei com alguns solos, normalmente Sweet Child O Mine, eram difíceis, apenas as notas eram fáceis e tentava entender porque o Slash era tão criativo. Aprender sozinha foi a primeira parte, e a mais importante, da minha educação. Eu dizia isso depois, quando me perguntavam a respeito dessa época espero que mantenham isso fora das escolas.
Às vezes levo horas, dias até, antes de pegar uma música, mas no fim sempre pego pelo menos a metade. Assistia vídeos aulas de Buddy Holly e James Nelson, eles eram os únicos que ensinavam solos simplificados. Foi quando começou a ficar difícil, tentando fazer aquele tipo de solo bendy string style. Demorou meses para eu perceber que eu tinha de tirar a terceira corda revestida e substituí-la por uma não revestida, porque era fisicamente impossível curvar de outra forma. Eu estava atenta. Depois de alguns dias, rebentei a corda mizinha tentando afinar um tom mais grave, subi uns mil tons e deu merda. Quase queimei o amplificador, na tentativa de achar a distorção, mexi debaixo dele travei um botão de energia e começou a sair fumaça pela saída de áudio. Onde no qual eu precisava apenas por no tom máximo. Eu sabia que era uma iniciante desastrada.
Eu realmente queria uma pedaleira, cheguei a economizar o dinheiro do lanche. A única vez em que toquei guitarra com pedal, foi quando Alan me emprestou a dele, quase que eu quebro também, porque pisei sem querer. Até ai Alan nunca mais apareceu. A guitarra também não é minha, é do meu irmão. Ele conseguiu ela depois que eu fiquei enchendo o saco, pra ele pedir aos nossos pais para comprar de presente de aniversário. Ele nem gostava naquele tempo, mas só por que a guitarra foi comprada no aniversário dele, ele se sentiu no direito de gostar e aprender a tocar. E tocar mais do que eu. Mais isso nunca aconteceu.
Eu também queria uma guitarra, mas ia demorar até o meu aniversário, eu queria de verdade, nem que fosse a mais antiga, uma Hofner Senator, com o pick up elétrico, com o corpo sólido, ou uma Grazioso, uma espécie de Strat com corpo sólido, mas só tem na Tchecoslováquia. Como Hank Marvin, dos Shadows, com o seu Antori. Era só ligar e mandar bola.
Tudo tinha haver com rock’ in’roll. A-wop-bop-a-loo-bop… eu ouvia coisas antigas demais para mim. Mas nunca gostei dos Beatles pra valer, apenas ouvi algumas músicas. Aprendi a tocar Don’t Let Me Down, Let it Be… e Júlia me ensinou a tocar a metade de Imagine. No meu ponto de vista, Led Zepellin dá mil a zero nos Beatles em relação a música, letra, arranjo, riffs... ou seja, nada contra sobre a história deles. “A grande revolução”. Eu nunca idolatrei nenhum artista, e sim, a música desse artista. Eu realmente amo guitarra, mas até hoje só toco mais ou menos apenas o violão.
Economizei dinheiro para poder comprar Cowboys From Hell do Pantera. Emprestei, e nunca mais o vi. Foi em 2010 que me apaixonei por essa banda. Pantera é o tipo de banda onde todos os integrantes tocam perfeitamente diferente. Phil Anselmo tem uma voz potente, mas ao ouvir o Pantera você não canta junto com ele, você canta junto com Dimebag, o guitarrista, o cara é foda! Você não decora a letra de Phil e sim o riff da guitarra de Darrel. Exceto em Walk! e This Love. Essa banda fez mudar meu apetite musical, e passei a ouvir mais metal do que rock clássico. É em Gaspar que vende radiolas, discos, camisetas de bandas na frente e tem uma pequena lan house nos fundos. Curti bastante aquele lugar. Mais lá não tem tanto ar para respirar. Até então, era do rock, um pouco de punk e até chegar ao metal. Minha lista era assim, em ordem alfabética: ACDC, Aerosmith, Alice In Chains, Angra, Avenged, Black Sabbath, Deep Purple, Dragon Forces, Iron Maiden, Judas Priest, Korn, Led Zeppelin, Marilyn Manson, Megadeth, Metallica. Nirvana, Pantera, Pearl Jam, Queen, Ramones, Scorpions, Sepultura, Slayer, Slipknot, SOAD, The Distillers, The Rolling Stones, e outras cacetadas de bandas.
Mas esse é o mundo onde rock in roll e metal são quase que apedrejado. Não em João Pessoa. Em alguns lugares rock é sinônimo de palavrão, de fruto proibido. Então de repente vieram novamente os The Beatles, que não é considerado um “rock de verdade”. Meus colegas de “estrada” têm uma coleção incrível. Todos os meus amigos mais próximos são fãs dos Beatles; Lucas o nerd, meu melhor amigo, conheço ele desde antes da primeira guerra mundial. Aquele que só vive com a minha camisa do Pantera. Kelly, minha irmã gêmea, aquela que é de Bayeux, mas significa muito pra mim. Júlia, uma menina clássica e antiga, dos cabelos de fogo, aquela que já tem capacidade de criar um livro de teorias. Nayana, que chegou agora e já quer ir embora. Aquela que parece o Pe Lanza do Restart. E que pensa que me engana. E Gabita, que já foi atropelada por uma moto, e que fala a todo estante “poxa vida!”. Aquela que me acorda com travesseiradas e anda de skate numa rua calçada. Enfim, e vários outros.
 Eu queria tanto falar pra eles que não gosto dos Beatles por que eles gostam dos Beatles, e eles só gostam dos Beatles por causa da modinha de hoje em dia. E que eles são todos antigos e velhos, mas mesmo assim amo eles. Quando eu ouço aquelas músicas elas realmente causam um frio na minha espinha. Mas também não posso deixar de comentar que foram os Beatles que fez o sentido da mistura do blues com o rock in roll. E foram eles que influenciaram quase todas as minhas bandas favoritas. Foram eles também que plagiaram os Fats Domino em 'Lady Madonna, mas todo mundo plagiou os Beatles em alguma coisa. Portanto, querendo ou não, eles são mais ou menos, ruins.