Indy Vandark

quinta-feira, 8 de março de 2012

Reminiscências, a fita da morte. (pt1)



Fui tomada ontem a noite por um assombro enorme que contagiou a tudo em minha volta. Estava eu a selecionar umas velhas fitas de vídeos, e acabei encontrando mais material do que eu julgo ser possível assistir. Um jovem com um martelo esmaga a cabeça da namorada ciumenta. Adolescentes resignados em sua juventude plástica picando gatinhos. Um por do sol agressivo e o enviado das trevas a me perseguir.
Eram fitas velhas e desconexas, que eu julgava estarem totalmente mofadas ou destruídas pelo tempo, mas não. E ontem a noite eu tive o desprazer nostálgico de, mais uma vez, me deparar intensamente com o passado. Primeiro de tudo, não preciso nem mencionar o Anjo Negro. Aquele que desde o dia em que veio me visitar pela primeira vez, se instalou em minha alma, viveu a minha vida e morou na minha casa. Ele pode ser visto na maioria das filmagens. Discretamente, languidamente. Pelos cantos dos enquadramentos. Mas sempre lá. São muitas informações. A um vórtice no tempo e um buraco nas trevas. Eu fui tragado pelos dois.
Parei a fita. Desci as escadas e peguei uma garrafa de vinho. Vai ser necessário uma ou duas dessas para suportar essa estranha viagem ao passado. Essa insólita volta aquele período tão desagradável que é a adolescência. Insuportável pensar no que eu já fui um dia. Um adolescente sórdido com espinhas na cara, maneirismos estereotipados de fala, e uma máscara de insegurança estampada no rosto. Uma enorme máscara de carnaval com plumas de pavão escrito em neon azul; " Eu sou uma colcha de retalhos! Eu sou inseguro, sou volúvel como uma borboleta. Eu não sou nada, eu não sou ninguém". E logo na sequência tem uma imagem minha com quinze anos dizendo; " Enterrem meus órgãos no quintal". O que eu estava dizendo?
É estranho. Eu fui o último dos meus amigos a beijar, mas deveria, na verdade ter sido o último dos meus amigos a transar. Coisa que não aconteceu. E atribuo a e pular de fases, muitos dos meus infotunios e complexos na vida sexual. É estranho mergulhar no passado. Alguém tem uma ácido derretendo entre os dentes. Pequenos adolescentes com os olhos vidrados coversam frenéticamente enquanto fuma pilhas de maços de cigarros e as ovas dos peixes amassadas deixando os dedos amarelos e com um cheiro bolorento que vem da merda grudada no tênis. " Porra. eu pisei no coco do cachorro" diz alguém e os olhos vidrados da juventude transviada se voltam para a escuridão.
Nesse ponto novamente parei a fita. Um pouco nova demais aquela meninice toda com todas aquelas substâncias escorrendo pela superfície do rosto. Garotos de doze anos se bulinando e fumando maconha em um baile de fantasias improvisado na garagem. Um sapo, um aventureiro do bairro proibido, um vaqueiro e um Mc de funk. Totalmente transfigurados os rostos aparentam traços de metamorfose, insegurança, transubstanciação e homosexualidade. Mas como já diria Freud; " Todos os seres humanos até os doze anos de idade é potencialmente bissexual. Levando em conta que filmagem a molecada tinha exatamente doze anos, posso dizer que essa foi na trave. Cada moleque, um pendurado em cima do outro, bebendo, vomitando, dançando e insinuando coreografias que poderiam muito bem sugerir um ato sexual. ( para os especialistas). Mulheres? não havia nenhuma. Não. Elas eram boas de mais para a gente. Especialmente para mim. Porra. Entrar em contato com esse filme infernal, apalpei as mãos nas costas e senti a raiz das asas negras que fui forçado a arrancar na adolescência. Relembrei em 5.0 Hd o sofrimento que foi ter a minha juventude perdida, ver as portas do paraiso se fechando por causa das mulheres. Eu fui totalmente desprezado pelo sexo feminino em minha mocidade. O neon que eu carregava em minha aura avermelhada dizia em letras maiúsculas; " Ele nunca beijou na boca". De fato isso demorou para acontecer. E quando aconteceu, foi com uma mulher três vezes a minha idade e três vezes o meu peso. Que deus a tenha pois eu sei que ela morreu Sofreu um acidente. Houve muita baba e muitas mentiras nesse dia, pois eu disse que tinha uma namorada. Não sei por que menti. Talvez por que ela era muito feia e eu não queria repetir a experiência.
Ser adolescente foi terrível mesmo. Vejo moleques de quinze anos andando de bicicleta na rua, acompanhados de suas namoradas queimadas de sol e me pergunto se eu tivesse sido um deles, como seria minha vida hoje? No meu caso, não houve muita resistência. Desde cedo percebi que minha mocidade estava resignada ao desamparo e frustração. Não precisei ter um olho clínico para me olhando identificar que eu era um daqueles que possui a marca. A marca dos errantes. A marca lembrava uma cicatriz. E mesmo constantemente rejeitado pelas mulheres e posteriormente rejeitado pelos amigos eu ficava parado de frente para o espelho a contemplar minha marca de Caim. No meu íntimo eu sabia que aquilo tudo era apenas uma fase, e que em breve tudo iria mudar. Eu iria me tornar um homem. Um homem que possuia a marca no rosto. A marca que mais lembrava uma cicatriz, um corte.
O vídeo me fez lembrar de coisas que não aconteceram nunca, e eu fiz questão de esquecer tudo. A luz parece escura e a escuridão se fez tão clara. Parei de assistir a fita no momento em que começaram os caseiros filmes de terror. " A anatomia do terror". "A psicologia do medo". " O fracasso em tentar ser como os demais". Fui acometido por tantas que isso renderia até um outro post. Nesse momento, vou abrir outra garrafa de vinho, aquela que tem um capeta estampado no rótulo e continuar minha jornada lunar de encontro as trevas do passado.

(Erich Mariani)

terça-feira, 6 de março de 2012

Coincidência, SIMULTANEIDADE.



- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta. 

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo (Poesia Completa, p. 535)

Não há falta na ausência.

 


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

O jovem, Einstein.



Professor: Hoje, eu vou provar pra vocês que se Deus existe, ele é mal. Deus criou tudo que existe? (pausa)
Professor: Se Deus criou tudo... então ele criou o mal. O que significa que Deus é mal.
-um garotinho lá atrás levanta a mão-
Garoto: Com lincença, Professor... o frio existe?
Professor: Que tipo de pergunta é essa? Claro que ele existe. Você nunca teve frio?
Garoto: Na verdade senhor, o frio não existe. De acordo com as leis da física, o que nós consideramos frio é, na realidade, ausência de calor. - o garoto continua - Professor, a escuridão existe?
Professor: Claro que existe.
Garoto: Você está errado senhor. A escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é a ausência de luz. A luz, nós podemos estudar mas não a escuridão. O mal não existe, é a mesma coisa da escuridão e do frio. Deus não criou o mal. O mal é resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus presente em seu coração.
-O garoto se senta-
Professor: Como é seu nome garoto?
Garoto: Albert Einstein, senhor.