Para mim não tem nada haver com
revolta, tem haver com marcar posição. Eu amo meus pais, sinto-me à vontade no
meu mundo confortável com cortinas, heavy-metal, e xícaras de chá. Eles nunca me
impediram que eu fizesse o que queria até então, e dão o quarto do meu irmão
para eu tocar quase todos os dias, quando Júlia, Nayana e Gabi aparece e nós tocamos
juntas. Minha mãe fecha a porta e diz: “Toquem música, por favor!”. Meu pai
nunca se importara com a barulheira, ele tem um ótimo senso de humor. E na
maioria das vezes ele nunca está em casa mesmo. Incrível sua vontade de
trabalhar.
Hoje é um
mundo diferente daquele em que eu cresci, eles não pareciam se importar, desde
que fosse feliz, e eu era. Eu ouvia as histórias dele. Como durante a juventude
do meu pai – Lucca – que era vendedor de picolé na praia, depois consertador de
objetos pilháveis, e hoje empresário de bancos. Minha mãe – Inig J – era uma
boa moça que teve seu primeiro emprego vendendo salgados, sempre sorrindo e
dizendo coisas positivas para todos. Eles estavam casados há pouco tempo quando
descobriram que eu ia nascer. Mas já tinham um filho. Isso foi quando eles
viviam na velha casa de Jardim Paulista, era um casebre perto do Recife. Eu era
um bebê da meia noite, eles disseram: nascera em 30 de março de 1996, na
maternidade Paulista, um bairro ao lado de Hellcife. Eles não me batizaram,
apesar de que isso era o que todos faziam, mas eles preferiram assim, e nunca
me obrigaram a ir à igreja. Eles acreditam em Deus – não pra valer –, nem eu.
Eu só digo o nome dele quando alguma coisa dá errado: Ai, meu Deus! Por Cristo!
Ah, vá pro inferno!
A música
pra mim não era importante. De vez em quando ouvia minha mãe ouvindo no rádio
um velho MPB, como: Jorge Vercilo, Caetano Veloso, Roberto Carlos... Realmente
eu não curtia muito a música, até ouvir as músicas que meu pai ouvia: Legião
Urbana, Titãs, Guns N Roses... E eu sempre soube que foi apartir desse momento
que eu soube o que era música. Meu pai “era” um roqueiro embutido, ele curtia
aquele rock clássico, era fã de Guns N’ Roses e razoavelmente ouvia Scorpions.
Eu nunca soube o que era metal de verdade até ficar mais velha. Por sorte, meu
irmão mais velho também gosta de rock, assim como depois, minha irmã casula
também veio para gostar. Eu gosto da companhia dos meus irmãos, mas prefiro
ler, desenhar e colecionar CDS só para mim. Eu sou a filha do meio, a que sofre
com aquela história: “Só ele que vai porque é mais velho. Só ela vai ganhar
porque é mais nova” Mais que Cacilda! Odeio isso. E para meus pais eu sou muito
madura mentalmente para a minha idade. “Você era divertida”, dizia minha mãe,
olhando para alguns anos atrás. “Mas uma divertida tranqüila, você não era do
tipo de menina que gritava.” E hoje sou mais fechada, isolada. Uma solitária
por vontade própria. Muitas pessoas não
conseguem ficar sozinhas. Ficam assustadas. O isolamento não me incomoda de
maneira alguma; ele me dá uma sensação de segurança.
Depois que
meus pais se mudaram de Jardim Paulista (PE) para Jardim Planalto (PB) em 2002,
as coisas começaram a melhorar, não para a minha mãe, que tinha a sensação de
que se mudou para uma casa amaldiçoada, porque vivia vendo e ouvindo coisas
esquisitas, dizia que via espíritos. Até se mudarem para outra casa nos
funcionários em 2004 a
qual foi pior ainda para ela. Já em 2008 se mudaram para uma casa nova, em
outro bairro, a casa que vivemos até hoje, e ela nunca tivera problemas como os
quais ela tinha antes. A casa é legal, agradável. As cortinas de renda,
vizinhos curiosos e fugir para a mata da esquina. Ainda não perdi o sotaque da
cidade natal. Drogachi! Depoichi! CuichiCuichi! Arroichi! Ridículo.
As férias do começo do ano é a
melhor coisa. Na maioria das vezes volto para Pernambuco visitar meus
familiares ou vou para alhandra, caaporã ver outros familiares que nem sabia
que existia. Vou até a fazenda da minha tia-avó uns 40 km de João Pessoa, foi lá
à primeira vez que pesquei. E podia matar o tempo com animais. Fazer medo a os
pirralhos sobre as histórias de romãzinho e Maria florzinha, essa era a melhor
parte, saiam todos correndo para casa e deixava a mesinha de totó em paz para
eu brincar com minha prima Tainá, a que não é uma índia.
Em relação ao colégio eu era uma
ótima aluna até os 14 anos, até descobrir o violão. Depois descobri a guitarra,
virei metaleira. Mas ainda posso contar por ai que sou uma boa aluna, pois eu
realmente tive uma boa educação dos 7 aos 14 anos, aprendendo a ser uma rebelde
e todos os macetes dos jogos. Mais isso era apenas para contar vantagem. Eu gostava
de me exibir. No início, eu pegava o violão sabendo que os professores iriam
tirá-lo e não devolveriam até à hora de ir para casa. É um violão daquele tipo
pra iniciante, preto e com cordas de nylon horríveis, mas, quando eu aparecia
com ele depois da aula e começava a tocar, mesmo sem ter o jeito ainda e,
tocando as notas mais simples e o ritmo mais fácil, os amigos se juntavam ao
redor, arrancando os cabelos, surpreso por ver um instrumento raro para
crianças – as crianças nunca gostaram de violão – e olhando para mim como se
estivessem me vendo pela primeira vez. Eu sabia tocar, até Mateus mostrar como
era. Depois consegui aquele livro Play in
a Day, de Bert Weedon, mas por curiosidade, depois perdi ele na mudança. Logo
esqueci tudo. Depois minha mãe comprou outro livro de cifras Canções de Roberto Carlos. Eu vendi. Em
relação a tocar violão, eu prefiro tocar MPB, me faz bem. Meu antigo colégio o
João Paulo II – onde conheci Lucas, meu futuro marido – ofereceu algumas aulas,
mas isso também não ajudou muito. Eu sempre fui muito impaciente. Eu tinha
aquilo que o professor do JPII me pediu para praticar e o que eu ouvia quando
colocava alguns CDS. A primeira música que aprendi foi Pra não dizer que não falei das flores, são apenas duas notas, mas,
até hoje me perco no ritmo. Eu queria era tocar Legião Urbana, Pais e Filhos, Hoje à noite não tem luar,
Que país é este e Faroeste Cabloco. Eram as músicas que eu escutava naquele
tempo. Também queria aprender Cássia Eller e Cazuza. Nunca consegui tirar uma
completa. Mas felizmente hoje consigo mais ou menos. Pelo menos disfarço. Minha
música favorita era Don’t cry de Guns
N’ Roses, puta som! Pegava de um jeito que você não conseguia mais tirar da
cabeça! Nada de bateria pesada, apenas dedilhado de guitarra e mais guitarra. Aquele
refrão estagnava na minha mente “Don’t
youuu cryyyy that night” Mas eu choro ouvindo ela à noite; pura emoção, eu
querendo fazer parte. Então eu aprendi um pouco de guitarra, comecei com alguns
solos, normalmente Sweet Child O Mine, eram
difíceis, apenas as notas eram fáceis e tentava entender porque o Slash era tão criativo. Aprender sozinha
foi a primeira parte, e a mais importante, da minha educação. Eu dizia isso
depois, quando me perguntavam a respeito dessa época espero que mantenham isso
fora das escolas.
Às vezes levo horas, dias até,
antes de pegar uma música, mas no fim sempre pego pelo menos a metade. Assistia
vídeos aulas de Buddy Holly e James Nelson, eles eram os únicos que
ensinavam solos simplificados. Foi quando começou a ficar difícil, tentando
fazer aquele tipo de solo bendy string
style. Demorou meses para eu perceber que eu tinha de tirar a terceira
corda revestida e substituí-la por uma não revestida, porque era fisicamente
impossível curvar de outra forma. Eu estava atenta. Depois de alguns dias, rebentei
a corda mizinha tentando afinar um tom mais grave, subi uns mil tons e deu
merda. Quase queimei o amplificador, na tentativa de achar a distorção, mexi
debaixo dele travei um botão de energia e começou a sair fumaça pela saída de
áudio. Onde no qual eu precisava apenas por no tom máximo. Eu sabia que era uma
iniciante desastrada.
Eu realmente queria uma
pedaleira, cheguei a economizar o dinheiro do lanche. A única vez em que toquei
guitarra com pedal, foi quando Alan me emprestou a dele, quase que eu quebro
também, porque pisei sem querer. Até ai Alan nunca mais apareceu. A guitarra
também não é minha, é do meu irmão. Ele conseguiu ela depois que eu fiquei
enchendo o saco, pra ele pedir aos nossos pais para comprar de presente de
aniversário. Ele nem gostava naquele tempo, mas só por que a guitarra foi
comprada no aniversário dele, ele se sentiu no direito de gostar e aprender a
tocar. E tocar mais do que eu. Mais isso nunca aconteceu.
Eu também queria uma guitarra, mas
ia demorar até o meu aniversário, eu queria de verdade, nem que fosse a mais
antiga, uma Hofner Senator, com o pick up elétrico, com o corpo sólido, ou uma
Grazioso, uma espécie de Strat com corpo sólido, mas só tem na Tchecoslováquia.
Como Hank Marvin, dos Shadows, com o seu Antori. Era só ligar e mandar bola.
Tudo tinha haver com rock’
in’roll. A-wop-bop-a-loo-bop… eu ouvia coisas antigas demais para mim. Mas
nunca gostei dos Beatles pra valer, apenas ouvi algumas músicas. Aprendi a
tocar Don’t Let Me Down, Let it Be… e
Júlia me ensinou a tocar a metade de Imagine.
No meu ponto de vista, Led Zepellin dá mil a zero nos Beatles em relação a
música, letra, arranjo, riffs... ou seja, nada contra sobre a história deles.
“A grande revolução”. Eu nunca idolatrei nenhum artista, e sim, a música desse
artista. Eu realmente amo guitarra, mas até hoje só toco mais ou menos apenas o
violão.
Economizei dinheiro para poder
comprar Cowboys From Hell do Pantera.
Emprestei, e nunca mais o vi. Foi em 2010 que me apaixonei por essa banda.
Pantera é o tipo de banda onde todos os integrantes tocam perfeitamente
diferente. Phil Anselmo tem uma voz potente, mas ao ouvir o Pantera você não
canta junto com ele, você canta junto com Dimebag, o guitarrista, o cara é
foda! Você não decora a letra de Phil e sim o riff da guitarra de Darrel.
Exceto em Walk! e This Love. Essa banda fez mudar meu
apetite musical, e passei a ouvir mais metal do que rock clássico. É em Gaspar
que vende radiolas, discos, camisetas de bandas na frente e tem uma pequena lan
house nos fundos. Curti bastante aquele lugar. Mais lá não tem tanto ar para
respirar. Até então, era do rock, um pouco de punk e até chegar ao metal. Minha
lista era assim, em ordem alfabética: ACDC, Aerosmith, Alice In Chains, Angra, Avenged,
Black Sabbath, Deep Purple, Dragon Forces, Iron Maiden, Judas Priest, Korn, Led
Zeppelin, Marilyn Manson, Megadeth, Metallica. Nirvana, Pantera, Pearl Jam, Queen, Ramones,
Scorpions, Sepultura, Slayer, Slipknot, SOAD, The Distillers, The Rolling
Stones, e outras cacetadas de bandas.
Mas esse é o mundo onde rock in
roll e metal são quase que apedrejado. Não em João Pessoa. Em
alguns lugares rock é sinônimo de palavrão, de fruto proibido. Então de repente
vieram novamente os The Beatles, que não é considerado um “rock de verdade”.
Meus colegas de “estrada” têm uma coleção incrível. Todos os meus amigos mais
próximos são fãs dos Beatles; Lucas o nerd, meu melhor amigo, conheço ele desde
antes da primeira guerra mundial. Aquele que só vive com a minha camisa do
Pantera. Kelly, minha irmã gêmea, aquela que é de Bayeux, mas significa muito
pra mim. Júlia, uma menina clássica e antiga, dos cabelos de fogo, aquela que
já tem capacidade de criar um livro de teorias. Nayana, que chegou agora e já
quer ir embora. Aquela que parece o Pe Lanza do Restart. E que pensa que me
engana. E Gabita, que já foi atropelada por uma moto, e que fala a todo estante
“poxa vida!”. Aquela que me acorda com travesseiradas e anda de skate numa rua
calçada. Enfim, e vários outros.
Eu queria tanto falar pra eles que não gosto
dos Beatles por que eles gostam dos Beatles, e eles só gostam dos Beatles por causa
da modinha de hoje em dia. E
que eles são todos antigos e velhos, mas mesmo assim amo eles. Quando eu ouço
aquelas músicas elas realmente causam um frio na minha espinha. Mas também não
posso deixar de comentar que foram os Beatles que fez o sentido da mistura do
blues com o rock in roll. E foram eles que influenciaram quase todas as minhas
bandas favoritas. Foram eles também que plagiaram os Fats Domino em 'Lady Madonna, mas todo mundo plagiou os Beatles em alguma coisa. Portanto, querendo ou não, eles são mais ou menos, ruins.
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