Indy Vandark

sábado, 17 de novembro de 2012

Ascenção




Para mim não tem nada haver com revolta, tem haver com marcar posição. Eu amo meus pais, sinto-me à vontade no meu mundo confortável com cortinas, heavy-metal, e xícaras de chá. Eles nunca me impediram que eu fizesse o que queria até então, e dão o quarto do meu irmão para eu tocar quase todos os dias, quando Júlia, Nayana e Gabi aparece e nós tocamos juntas. Minha mãe fecha a porta e diz: “Toquem música, por favor!”. Meu pai nunca se importara com a barulheira, ele tem um ótimo senso de humor. E na maioria das vezes ele nunca está em casa mesmo. Incrível sua vontade de trabalhar.
            Hoje é um mundo diferente daquele em que eu cresci, eles não pareciam se importar, desde que fosse feliz, e eu era. Eu ouvia as histórias dele. Como durante a juventude do meu pai – Lucca – que era vendedor de picolé na praia, depois consertador de objetos pilháveis, e hoje empresário de bancos. Minha mãe – Inig J – era uma boa moça que teve seu primeiro emprego vendendo salgados, sempre sorrindo e dizendo coisas positivas para todos. Eles estavam casados há pouco tempo quando descobriram que eu ia nascer. Mas já tinham um filho. Isso foi quando eles viviam na velha casa de Jardim Paulista, era um casebre perto do Recife. Eu era um bebê da meia noite, eles disseram: nascera em 30 de março de 1996, na maternidade Paulista, um bairro ao lado de Hellcife. Eles não me batizaram, apesar de que isso era o que todos faziam, mas eles preferiram assim, e nunca me obrigaram a ir à igreja. Eles acreditam em Deus – não pra valer –, nem eu. Eu só digo o nome dele quando alguma coisa dá errado: Ai, meu Deus! Por Cristo! Ah, vá pro inferno!
            A música pra mim não era importante. De vez em quando ouvia minha mãe ouvindo no rádio um velho MPB, como: Jorge Vercilo, Caetano Veloso, Roberto Carlos... Realmente eu não curtia muito a música, até ouvir as músicas que meu pai ouvia: Legião Urbana, Titãs, Guns N Roses... E eu sempre soube que foi apartir desse momento que eu soube o que era música. Meu pai “era” um roqueiro embutido, ele curtia aquele rock clássico, era fã de Guns N’ Roses e razoavelmente ouvia Scorpions. Eu nunca soube o que era metal de verdade até ficar mais velha. Por sorte, meu irmão mais velho também gosta de rock, assim como depois, minha irmã casula também veio para gostar. Eu gosto da companhia dos meus irmãos, mas prefiro ler, desenhar e colecionar CDS só para mim. Eu sou a filha do meio, a que sofre com aquela história: “Só ele que vai porque é mais velho. Só ela vai ganhar porque é mais nova” Mais que Cacilda! Odeio isso. E para meus pais eu sou muito madura mentalmente para a minha idade. “Você era divertida”, dizia minha mãe, olhando para alguns anos atrás. “Mas uma divertida tranqüila, você não era do tipo de menina que gritava.” E hoje sou mais fechada, isolada. Uma solitária por vontade própria.  Muitas pessoas não conseguem ficar sozinhas. Ficam assustadas. O isolamento não me incomoda de maneira alguma; ele me dá uma sensação de segurança.
            Depois que meus pais se mudaram de Jardim Paulista (PE) para Jardim Planalto (PB) em 2002, as coisas começaram a melhorar, não para a minha mãe, que tinha a sensação de que se mudou para uma casa amaldiçoada, porque vivia vendo e ouvindo coisas esquisitas, dizia que via espíritos. Até se mudarem para outra casa nos funcionários em 2004 a qual foi pior ainda para ela. Já em 2008 se mudaram para uma casa nova, em outro bairro, a casa que vivemos até hoje, e ela nunca tivera problemas como os quais ela tinha antes. A casa é legal, agradável. As cortinas de renda, vizinhos curiosos e fugir para a mata da esquina. Ainda não perdi o sotaque da cidade natal. Drogachi! Depoichi! CuichiCuichi! Arroichi! Ridículo.
As férias do começo do ano é a melhor coisa. Na maioria das vezes volto para Pernambuco visitar meus familiares ou vou para alhandra, caaporã ver outros familiares que nem sabia que existia. Vou até a fazenda da minha tia-avó uns 40 km de João Pessoa, foi lá à primeira vez que pesquei. E podia matar o tempo com animais. Fazer medo a os pirralhos sobre as histórias de romãzinho e Maria florzinha, essa era a melhor parte, saiam todos correndo para casa e deixava a mesinha de totó em paz para eu brincar com minha prima Tainá, a que não é uma índia.
Em relação ao colégio eu era uma ótima aluna até os 14 anos, até descobrir o violão. Depois descobri a guitarra, virei metaleira. Mas ainda posso contar por ai que sou uma boa aluna, pois eu realmente tive uma boa educação dos 7 aos 14 anos, aprendendo a ser uma rebelde e todos os macetes dos jogos. Mais isso era apenas para contar vantagem. Eu gostava de me exibir. No início, eu pegava o violão sabendo que os professores iriam tirá-lo e não devolveriam até à hora de ir para casa. É um violão daquele tipo pra iniciante, preto e com cordas de nylon horríveis, mas, quando eu aparecia com ele depois da aula e começava a tocar, mesmo sem ter o jeito ainda e, tocando as notas mais simples e o ritmo mais fácil, os amigos se juntavam ao redor, arrancando os cabelos, surpreso por ver um instrumento raro para crianças – as crianças nunca gostaram de violão – e olhando para mim como se estivessem me vendo pela primeira vez. Eu sabia tocar, até Mateus mostrar como era. Depois consegui aquele livro Play in a Day, de Bert Weedon, mas por curiosidade, depois perdi ele na mudança. Logo esqueci tudo. Depois minha mãe comprou outro livro de cifras Canções de Roberto Carlos. Eu vendi. Em relação a tocar violão, eu prefiro tocar MPB, me faz bem. Meu antigo colégio o João Paulo II – onde conheci Lucas, meu futuro marido – ofereceu algumas aulas, mas isso também não ajudou muito. Eu sempre fui muito impaciente. Eu tinha aquilo que o professor do JPII me pediu para praticar e o que eu ouvia quando colocava alguns CDS. A primeira música que aprendi foi Pra não dizer que não falei das flores, são apenas duas notas, mas, até hoje me perco no ritmo. Eu queria era tocar Legião Urbana, Pais e Filhos, Hoje à noite não tem luar, Que país é este e Faroeste Cabloco. Eram as músicas que eu escutava naquele tempo. Também queria aprender Cássia Eller e Cazuza. Nunca consegui tirar uma completa. Mas felizmente hoje consigo mais ou menos. Pelo menos disfarço. Minha música favorita era Don’t cry de Guns N’ Roses, puta som! Pegava de um jeito que você não conseguia mais tirar da cabeça! Nada de bateria pesada, apenas dedilhado de guitarra e mais guitarra. Aquele refrão estagnava na minha mente “Don’t youuu cryyyy that night” Mas eu choro ouvindo ela à noite; pura emoção, eu querendo fazer parte. Então eu aprendi um pouco de guitarra, comecei com alguns solos, normalmente Sweet Child O Mine, eram difíceis, apenas as notas eram fáceis e tentava entender porque o Slash era tão criativo. Aprender sozinha foi a primeira parte, e a mais importante, da minha educação. Eu dizia isso depois, quando me perguntavam a respeito dessa época espero que mantenham isso fora das escolas.
Às vezes levo horas, dias até, antes de pegar uma música, mas no fim sempre pego pelo menos a metade. Assistia vídeos aulas de Buddy Holly e James Nelson, eles eram os únicos que ensinavam solos simplificados. Foi quando começou a ficar difícil, tentando fazer aquele tipo de solo bendy string style. Demorou meses para eu perceber que eu tinha de tirar a terceira corda revestida e substituí-la por uma não revestida, porque era fisicamente impossível curvar de outra forma. Eu estava atenta. Depois de alguns dias, rebentei a corda mizinha tentando afinar um tom mais grave, subi uns mil tons e deu merda. Quase queimei o amplificador, na tentativa de achar a distorção, mexi debaixo dele travei um botão de energia e começou a sair fumaça pela saída de áudio. Onde no qual eu precisava apenas por no tom máximo. Eu sabia que era uma iniciante desastrada.
Eu realmente queria uma pedaleira, cheguei a economizar o dinheiro do lanche. A única vez em que toquei guitarra com pedal, foi quando Alan me emprestou a dele, quase que eu quebro também, porque pisei sem querer. Até ai Alan nunca mais apareceu. A guitarra também não é minha, é do meu irmão. Ele conseguiu ela depois que eu fiquei enchendo o saco, pra ele pedir aos nossos pais para comprar de presente de aniversário. Ele nem gostava naquele tempo, mas só por que a guitarra foi comprada no aniversário dele, ele se sentiu no direito de gostar e aprender a tocar. E tocar mais do que eu. Mais isso nunca aconteceu.
Eu também queria uma guitarra, mas ia demorar até o meu aniversário, eu queria de verdade, nem que fosse a mais antiga, uma Hofner Senator, com o pick up elétrico, com o corpo sólido, ou uma Grazioso, uma espécie de Strat com corpo sólido, mas só tem na Tchecoslováquia. Como Hank Marvin, dos Shadows, com o seu Antori. Era só ligar e mandar bola.
Tudo tinha haver com rock’ in’roll. A-wop-bop-a-loo-bop… eu ouvia coisas antigas demais para mim. Mas nunca gostei dos Beatles pra valer, apenas ouvi algumas músicas. Aprendi a tocar Don’t Let Me Down, Let it Be… e Júlia me ensinou a tocar a metade de Imagine. No meu ponto de vista, Led Zepellin dá mil a zero nos Beatles em relação a música, letra, arranjo, riffs... ou seja, nada contra sobre a história deles. “A grande revolução”. Eu nunca idolatrei nenhum artista, e sim, a música desse artista. Eu realmente amo guitarra, mas até hoje só toco mais ou menos apenas o violão.
Economizei dinheiro para poder comprar Cowboys From Hell do Pantera. Emprestei, e nunca mais o vi. Foi em 2010 que me apaixonei por essa banda. Pantera é o tipo de banda onde todos os integrantes tocam perfeitamente diferente. Phil Anselmo tem uma voz potente, mas ao ouvir o Pantera você não canta junto com ele, você canta junto com Dimebag, o guitarrista, o cara é foda! Você não decora a letra de Phil e sim o riff da guitarra de Darrel. Exceto em Walk! e This Love. Essa banda fez mudar meu apetite musical, e passei a ouvir mais metal do que rock clássico. É em Gaspar que vende radiolas, discos, camisetas de bandas na frente e tem uma pequena lan house nos fundos. Curti bastante aquele lugar. Mais lá não tem tanto ar para respirar. Até então, era do rock, um pouco de punk e até chegar ao metal. Minha lista era assim, em ordem alfabética: ACDC, Aerosmith, Alice In Chains, Angra, Avenged, Black Sabbath, Deep Purple, Dragon Forces, Iron Maiden, Judas Priest, Korn, Led Zeppelin, Marilyn Manson, Megadeth, Metallica. Nirvana, Pantera, Pearl Jam, Queen, Ramones, Scorpions, Sepultura, Slayer, Slipknot, SOAD, The Distillers, The Rolling Stones, e outras cacetadas de bandas.
Mas esse é o mundo onde rock in roll e metal são quase que apedrejado. Não em João Pessoa. Em alguns lugares rock é sinônimo de palavrão, de fruto proibido. Então de repente vieram novamente os The Beatles, que não é considerado um “rock de verdade”. Meus colegas de “estrada” têm uma coleção incrível. Todos os meus amigos mais próximos são fãs dos Beatles; Lucas o nerd, meu melhor amigo, conheço ele desde antes da primeira guerra mundial. Aquele que só vive com a minha camisa do Pantera. Kelly, minha irmã gêmea, aquela que é de Bayeux, mas significa muito pra mim. Júlia, uma menina clássica e antiga, dos cabelos de fogo, aquela que já tem capacidade de criar um livro de teorias. Nayana, que chegou agora e já quer ir embora. Aquela que parece o Pe Lanza do Restart. E que pensa que me engana. E Gabita, que já foi atropelada por uma moto, e que fala a todo estante “poxa vida!”. Aquela que me acorda com travesseiradas e anda de skate numa rua calçada. Enfim, e vários outros.
 Eu queria tanto falar pra eles que não gosto dos Beatles por que eles gostam dos Beatles, e eles só gostam dos Beatles por causa da modinha de hoje em dia. E que eles são todos antigos e velhos, mas mesmo assim amo eles. Quando eu ouço aquelas músicas elas realmente causam um frio na minha espinha. Mas também não posso deixar de comentar que foram os Beatles que fez o sentido da mistura do blues com o rock in roll. E foram eles que influenciaram quase todas as minhas bandas favoritas. Foram eles também que plagiaram os Fats Domino em 'Lady Madonna, mas todo mundo plagiou os Beatles em alguma coisa. Portanto, querendo ou não, eles são mais ou menos, ruins.

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