Quarta
passada, sete horas da manhã. Acordo com o tic-tac do relógio antigo que fica
entre os dois criados-mudos do tempo de antes da primeira guerra mundial, no
quarto da minha avó – a que cheira tabaco escondida – e o barulho de gotas
pingando da pia velha do banheiro sujo do lado do quarto.
Eu gosto
disso, pois assim tenho a certeza de que o silêncio não está presente, pois, é
ele que me faz pensar. E ao pensar sempre enxergo o lado ruim da vida.
Acordei sentindo convictamente de que
estive muito doente, e despertei de uma grande enfermidade, parecia que eu
estive em um coma profundo. Sentia meu corpo pesado, como se eu estivesse
carregando um peso de mil toneladas estagnadas dentro da minha alma.
Ouço de longe um clangor vindo junto com
o vento, pela janela que sozinha abre despertando um clarão, que fez arder meus
olhos, me acordar de vez e revelar para mim que estou no mundo.
O cheiro forte da fumaça do café que
minha mãe preparava, me trouxeram nostalgia do dia anterior, eu tentava lembrar
de algo, mas a memória falhava, eu tentava, mas não conseguia. Era como se
alguém tivesse apagado minha memória por completo. Nostalgizei também –
principalmente - do tempo em que eu era inocente, onde eu assistia Bob Esponja
sem enxergar que ele é gay, cantava a música de sabão crá-crá sem entender e cu
era apenas o símbolo do cobre.
Mas de volta
a realidade, bate na porta um velhote vendendo livrinhos infantis. Ele tinha
uma tatuagem rangífer de um antigo instrumento de suplício (dois madeiros, um
atravessado no outro) em que se amarravam condenados à morte, e segunda a
religião é a cruz em que foi pregado Cristo, ou na representação dela, um
símbolo da redenção de Cristo e do Cristianismo.
Achei
estranho um velho tatuado trabalhar pela manhã vendendo livros infantis, e
alegava que estava precisando muito de uma ajuda, para comprar o almoço de mais
tarde. Ruim é olhar para esse pobre velho e saber que um político corrupto está
boiando em dinheiro e é obeso. Como já dizia o Cazuza: “Vamos pedir piedade...
(8)” Pois é, mas o senhor piedade está no céu. Você sabe muito bem que somos
sobreviventes de um desastre mental. E aqui é o mundo doente onde vivemos, o
qual eu julgo de verdadeiro inferno. Bandidos matam policiais, policiais viram
bandidos e a sociedade lá sofrendo por falta de segurança. E o melhor a fazer é
sentir o cheiro da fumaça do café e lembrar de quando eu não sabia de tudo
isso. Por falar nisso, eu preferia ficar sem saber do segredo dos The Rolling
Stones - Sempre tenho que mencionar um terceiro caso relacionado a alguma banda
– é quase que obrigação.
Você não sabe o que é desafiar a igreja
lendo um código no índex de cabeça para baixo e afirmar que é devoto de grandes
filósofos ateus, mas você não é ateu - muito menos religioso – Você não sabe o
que é acreditar na teoria que alegam que o glorioso William Shakespeare se
casou com oito anos de idade com uma mulher mais velha, por causa dos costumes
do seu país natal, e depois disseram que ele era ela. Sim, naquele tempo as mulheres
não eram bem recebidas, nem recebidas no mundo da teoria e do pensamento. E a
conclusão sobre o grande foi dada. Entre vários e outros historiadores e
pesquisadores que desafiam e desconfiam das palavras do mestre. William
Shakespeare, nada mais nada menos, simplesmente nunca existiu. Essa foi uma das
coisas mais bizarras que alguém pode ter inventado – O personagem Shakespeare,
ou um mito sobre a verdade de Shakespeare – Então me diga referentes, quem iria
criar um personagem para esconder sua sabedoria? Alguém jamais. Ah, esse mito
deve ter surgido depois desses referentes terem cheirado muito, mas muito a
fumaça do café. Esse é o mundo bizarro.
Lembrei do caso da mãe prostituta que
colocava vodka no leite do bebê. O jovem punk anarquista que odiava a todo tipo
de lei, quebrava as regras e quando cresceu estudou para ser advogado. Mas que
droga é essa? Alguém começa a pensar no lado irônico da vida depois que cheira
a fumaça do café? Você já ouviu maldita? Sei que não. Sinto esse mesmo sintoma
quando os ouço. Erich canta: “(...) homens e mulheres constroem suas vidas,
eles se entorpecem de sexo, bebidas e anfetaminas. E não deixam um lugar para
um humilde pastor, que quer abrir as portas da casa da sua dor. Então vem o
pastor e invade a tua casa, espanta teus amigos e quer comer tua namorada, e
então você ateu se fudeu, e foi confirmar na merda que não existe um Deus...” Também
concordo com ele quando ele critica o Brasil de bastardos da América. “(...)
Nossa alma não mais será odiada pelo vaticano, nós somos sul-americanos
vizinhos desses filhos da puta que fabricam mentira e nós como o resto do
mundo, simplesmente pagamos por ela.” A verdade é que Erich só escreve quando
também, sente o cheiro da fumaça do café. Isso realmente é algo frustrante.
Apenas mais um dia de chuva, solidão e nostalgia.
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